As pessoas reclamam. Reclamam que
não tem tempo, não veem os filhos, não conseguem comer bem, trabalham demais,
trânsito demais, calor demais, chuva demais... mas não se questionam de onde
vem essa insatisfação toda.
Eu já me questionei, e casei com
uma pessoa que também já se questionou. E nós conversamos sobre isso. E
chegamos à mais óbvia conclusão de que a culpa de tanta insatisfação é a nossa
dependência desmedida do sistema.
O sistema que nos consome constantemente, que nos faz reféns, que
produz “necessidades adquiridas na sessão da tarde”, que nos extorque com
impostos e preços abusivos. Não temos retorno, não temos educação e saúde
públicas, pagamos pedágios e IPVAs e não temos boas estradas, pagamos pra ter
teto, pagamos pra comer, pagamos pra beber água, pagamos pra ir e vir, mas não
pagamos pra pensar.
Não sou absolutamente contra a
sociedade. Somos uma organização falida, um monte de lixo flutuando num
universo infinito. Mas evoluímos para nosso conforto, mesmo que isso nos tenha
custado o mais belo de nosso planeta, o sistema natural, a ordem a que as coisas simplesmente obedecem. Vivemos
empoleirados em favelas verticais, assistimos porcarias que distraem nossos
questionamentos, comemos produtos modificados com sabores artificiais. Mas
somos sociedade. Convivemos pacificamente juntos, mesmo pensando diferente.
Não estou aqui para apresentar
soluções definitivas. Também não vim simplesmente criticar. O meu intuito é
mostrar como podemos driblar essa “prisão” que tentam nos manter.
Inicialmente pense no que
realmente é sua necessidade. É inacreditável que uma pessoa que ganhe um
salário mínimo, atualmente cerca de R$600,00, compre um iphone que custa cerca
de R$ 1000,00 simplesmente porque todo mundo tem. E isso se repete com
automóveis, marcas de roupas, perfumes, maquiagem e toda a sorte de supérfluos.
Pense.
Outra coisa é o preço do seu
tempo. Se você vai vendê-lo, pense muito antes. Analise se vale a pena ficar
longe dos seus filhos, delegar a educação deles a terceiros para que você
trabalhe 10, 12h/dia e ganhe mais pra levá-los à Disney. Que tipo de educação
você está dando? Quais os valores que esta criança está adquirindo Pense.
O mesmo se aplica à sua
alimentação. Se você não tem tempo para fazer sua própria comida, acaba tendo
que comprá-la na rua e o vendedor desta, por sua vez, quer ver sua margem de
lucro aumentada, de modo que nunca usará produtos de origem satisfatória, com teores de sal e gordura
reduzidos. E se você ganhar menos, reduzir sua carga horária e no tempo que
sobrou tentar plantar sua hortinha, ir a feiras livre, cozinhar seu próprio
alimento? Pense.
Fazer atividade física pode ser
muito prazeroso, basta você encontrar a que mais se identifica. Porém, você
precisará de tempo para fazê-la. Uma mente sã precisa de uma morada sã. O mundo
está se tornando obeso. Será que ninguém percebe que o que falta é tempo para
se dedicar a alguma atividade? Será que você tem fôlego pra isso depois de 8,
9, 10 horas seguidas de trabalho? Pense.
E a satisfação pessoal. Como vai?
Você está estressado porque trabalha muito, ganha bem e o dinheiro nunca é
suficiente? É isso que o sistema quer de você. Que você ganhe dinheiro para que
ele possa tomá-lo sob a forma de um bom amigo que te oferece todas as respostas
pra suas angustias. Quer comprar sem sair de casa? Internet. Quer distração
pros filhos? Videogame. Quer casa limpa? Faxineira. Quer legumes frescos?
Hortifruti. Tá com calor? Ar-condicionado. Com frio? Aquecedor. Com fome?
Delivery. Com sede? Coca-cola. Ou pepsi.
Quando você aprende que seu tempo
vale muito mais do que te pagam, você abdica. Abdica de todas essas
necessidades irreais que são criadas pra que você gaste seu dinheiro e fique
refém dessa porcaria toda.
Pare de terceirizar suas tarefas.
Plante, vá a feiras, pratique exercícios, cozinhe seu alimento, crie seus
filhos, assista ao pôr-do-sol, descanse um pouco e deixe seu cérebro funcionar
devidamente. Não se torne um playmobil. Pense.
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