quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

PENSE


As pessoas reclamam. Reclamam que não tem tempo, não veem os filhos, não conseguem comer bem, trabalham demais, trânsito demais, calor demais, chuva demais... mas não se questionam de onde vem essa insatisfação toda.

Eu já me questionei, e casei com uma pessoa que também já se questionou. E nós conversamos sobre isso. E chegamos à mais óbvia conclusão de que a culpa de tanta insatisfação é a nossa dependência desmedida do sistema.

O sistema que nos consome  constantemente, que nos faz reféns, que produz “necessidades adquiridas na sessão da tarde”, que nos extorque com impostos e preços abusivos. Não temos retorno, não temos educação e saúde públicas, pagamos pedágios e IPVAs e não temos boas estradas, pagamos pra ter teto, pagamos pra comer, pagamos pra beber água, pagamos pra ir e vir, mas não pagamos pra pensar.

Não sou absolutamente contra a sociedade. Somos uma organização falida, um monte de lixo flutuando num universo infinito. Mas evoluímos para nosso conforto, mesmo que isso nos tenha custado o mais belo de nosso planeta, o sistema natural, a ordem  a que as coisas simplesmente obedecem. Vivemos empoleirados em favelas verticais, assistimos porcarias que distraem nossos questionamentos, comemos produtos modificados com sabores artificiais. Mas somos sociedade. Convivemos pacificamente juntos, mesmo pensando diferente.

Não estou aqui para apresentar soluções definitivas. Também não vim simplesmente criticar. O meu intuito é mostrar como podemos driblar essa “prisão” que tentam nos manter.

Inicialmente pense no que realmente é sua necessidade. É inacreditável que uma pessoa que ganhe um salário mínimo, atualmente cerca de R$600,00, compre um iphone que custa cerca de R$ 1000,00 simplesmente porque todo mundo tem. E isso se repete com automóveis, marcas de roupas, perfumes, maquiagem e toda a sorte de supérfluos. Pense.

Outra coisa é o preço do seu tempo. Se você vai vendê-lo, pense muito antes. Analise se vale a pena ficar longe dos seus filhos, delegar a educação deles a terceiros para que você trabalhe 10, 12h/dia e ganhe mais pra levá-los à Disney. Que tipo de educação você está dando? Quais os valores que esta criança está adquirindo  Pense.

O mesmo se aplica à sua alimentação. Se você não tem tempo para fazer sua própria comida, acaba tendo que comprá-la na rua e o vendedor desta, por sua vez, quer ver sua margem de lucro aumentada, de modo que nunca usará produtos de origem  satisfatória, com teores de sal e gordura reduzidos. E se você ganhar menos, reduzir sua carga horária e no tempo que sobrou tentar plantar sua hortinha, ir a feiras livre, cozinhar seu próprio alimento? Pense.

Fazer atividade física pode ser muito prazeroso, basta você encontrar a que mais se identifica. Porém, você precisará de tempo para fazê-la. Uma mente sã precisa de uma morada sã. O mundo está se tornando obeso. Será que ninguém percebe que o que falta é tempo para se dedicar a alguma atividade? Será que você tem fôlego pra isso depois de 8, 9, 10 horas seguidas de trabalho? Pense.

E a satisfação pessoal. Como vai? Você está estressado porque trabalha muito, ganha bem e o dinheiro nunca é suficiente? É isso que o sistema quer de você. Que você ganhe dinheiro para que ele possa tomá-lo sob a forma de um bom amigo que te oferece todas as respostas pra suas angustias. Quer comprar sem sair de casa? Internet. Quer distração pros filhos? Videogame. Quer casa limpa? Faxineira. Quer legumes frescos? Hortifruti. Tá com calor? Ar-condicionado. Com frio? Aquecedor. Com fome? Delivery. Com sede? Coca-cola. Ou pepsi.

Quando você aprende que seu tempo vale muito mais do que te pagam, você abdica. Abdica de todas essas necessidades irreais que são criadas pra que você gaste seu dinheiro e fique refém dessa porcaria toda.
Pare de terceirizar suas tarefas. Plante, vá a feiras, pratique exercícios, cozinhe seu alimento, crie seus filhos, assista ao pôr-do-sol, descanse um pouco e deixe seu cérebro funcionar devidamente. Não se torne um playmobil. Pense.

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